Ao longo da minha carreira, percebi que há uma série de temas que os pais têm mais dificuldade de falar com o pediatra. Alguns por fazerem vista grossa aos problemas para tentar proteger seus filhos ou familiares, outros pelo receio de serem julgados ou malvistos.
Na Pediatria, não deve existir esse tipo de julgamento. A abertura para falar dos temas mais variados é de extrema importância para a criança. Os temas tratados nas consultas são confidenciais.
Veja alguns temas considerados tabus pelos pais:
– O que vai além da rotina da criança – Por exemplo, as angústias da família sobre a criação de seu filho. Pais, mães e outros parentes próximos têm receios próprios sobre os cuidados e a educação dos filhos. Muitas vezes falar sobre a criança significa falar sobre a família, entender sua dinâmica e suas vulnerabilidades. Essa visão da compreensão da família é essencial na consulta pediátrica e todos os temas referentes a esse contexto devem sim ser tratados com o Pediatra.
– Dinâmica familiar – Muitas vezes os pais entendem que estão passando pouco tempo com seus filhos. Na sociedade em que vivemos, o trabalho e outras tarefas nos tomam bastante do tempo que gostaríamos de passar com as crianças e os cuidados logo cedo são compartilhados com a escola, cuidadores ou parentes. Pode vir uma sensação de culpa pelo distanciamento ou por às vezes não saber detalhes da rotina da criança. Essa é uma situação normal e que deve ser abertamente falada. Nem sempre a família vai ter todas as respostas. É possível dividir os cuidados e se fazer presente, estar atento ao comportamento do seu filho e da relação que estabelece com quem cuida dele, o qual deve estar alinhado com os valores e princípios da família.
– Percepção de um atraso no desenvolvimento da criança – Esse tema é um tabu frequente dos pais e quanto mais os pais se negarem a ver e falar desse tema, mais prejudicial pode ser à criança. É preciso também lembrar que cada sociedade, com sua cultura, crenças, ideologias, tem expectativas diferentes para a criança. Expectativas essas modificadas ao logo do tempo e de acordo com cada microuniverso familiar. Ou seja, apesar de haver um padrão de desenvolvimento esperado, que o pediatra deve acompanhar e analisar, cada indivíduo passa por essa fase de maneira diferente.
– Limites e rotinas adequadas – Muitas são as dúvidas dos pais sobre o tempo certo para comer, dormir, tempo de tela (uso de aparelhos eletrônicos), entre outras tarefas diárias. Esses tempos devem ser debatidos com o Pediatra, que pode orientá-los de acordo com as expectativas e rotinas de cada família. Também cabe ao profissional essa troca sincera de informação para que possa analisar em que pontos a saúde da criança pode estar sendo afetada por essas rotinas e limites.
